quarta-feira, 30 de julho de 2008

Calendário

Acho que demorei a descobrir Lygia Fagundes Telles empoeirada e perdida nos livros de meu pai. No dia em que as meninas saltaram do antigo armário esquecido na imensidão daquela nova casa, trazendo no rosto o fardo pesado de dias e anos, o pó que disfarçava a jovial adolescência em capa dura foi como as rugas confundindo a contagem real da idade de minha avó que observava. Tremi. Os mosquitos apareceram para atazanar a noite, contando segredos carregados de insônia e a fantasia mágica chamada coincidência se confirmou quando as cigarras uniformizadas, que até atrasaram em duas horas sua cantoria matinal para que eu acordasse num silêncio repentino de pós-chuva, deitando meus olhos crus, como os dela, nas nuances daquele dia que se abria, virgem, compondo-se ao toque de meus caprichos. Recentemente ganhei de presente uma edição que não demora a empoeirar. A cidade hoje em dia envelhece muito mais rápido e as rugas que vejo são irreconhecíveis de tão escuras.

3 comentários:

Cecília disse...

eu li há algum tempo ciranda de pedra. é bem bacana.

ana guadalupe disse...

olá marta! não entendi o comentário que você fez no meu blog. rs. o que é pequeno(a)? eu? meu sobrenome? abraço.

lu, a colodete disse...

oi, martha. vi só hoje o comentário no blog.
:)

gostei de ser 'encontrada' por vc. voltarei. bjs